ABRACE – Desenvolvimento da compreensão do que é inclusão
Sou a Elma, tenho 67 anos e estou orientadora pedagógica da ABRACE, desde 2006. Mas trabalho com pessoas com dificuldades de aprendizagem desde 1986.
Provavelmente, venho construindo “vagarosamente” o conceito de inclusão, desde a infância quando observava um professor, com várias deficiências, dando aula de datilografia na escola de meus pais, que por 4 décadas (anos 60, 70, e 80) ensinou datilografia à praticamente metade da cidade!!!!. E, em particular observando meu pai criando estratégias para adaptar o Método de Datilografia Remington para aqueles com alguma deficiência.
Gostaria de discutir, aqui, porque essa construção acontece tão vagarosamente.
SOBRE CADA UM E A PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Reflexões iniciais
Vamos detalhar em que consistem essas dificuldades, discutindo dois aspectos inicialmente: espontaneidade e imaginário cultural.
Sobre o espontâneo
A maior parte do tempo agimos de forma espontânea. Detalhando… Mesmo quando realizamos uma ação planejada, em segundos (no máximo, em minutos!), a espontaneidade passa a predominar. Ainda que se retorne ao planejado, essa retomada também permanece por pouco tempo.
Por quê?
Porque, quando atuamos, estamos “em relação com o outro” que passa a fazer parte do cenário, se faz presente, com toda sua carga de experiências de vida. Mas, o que é mesmo mais frequente é que “presentificamos” esse outro, a partir do nosso imaginário cultural, o que certamente acontece mais intensamente quando o outro é uma pcd.
Sobre o imaginário cultural/coletivo
Quem comanda a ação espontânea é o imaginário cultural/coletivo, do qual somos pouco ou nada conscientes.
O imaginário cultural ou coletivo* são, dentro do grupo social ao qual pertencemos, todas as experiências que vivemos, desde crianças, inseridas num conjunto de crenças, histórias, lembranças, costumes e conceitos.
*Por exemplo, nos países ocidentais a religião predominante é o Cristianismo. Mesmo para pessoas que não são cristãs, os símbolos do cristianismo, a história e os valores são muito conhecidos, pois fazem parte do chamado “imaginário coletivo”.
Em relação à pcd, constroem o imaginário coletivo de cada um:
a) As vivências familiares que influenciaram na construção de nossas estruturas de pensamento e ação sobre e com a pcd.
b) As mensagens que recebemos do grupo social maior, que “revelam” como a pcd é considerada.
E, o que temos no nosso imaginário cultural sobre a pessoa com deficiência?
É um deficiente… são sofredores, ele e a família… são eternas crianças… precisamos de muitos recursos para lidar com eles… com deficiências menores, é mais fácil lidar… são anjos… são dóceis… causam medo, angústia e piedade, entre tantas outras certezas, algumas bem absurdas.
Enfim, vemos um deficiente e não uma pessoa, com alguma deficiência!
Portanto, só pode parecer difícil mesmo!!!! Nem as melhores intenções e cuidadosos planejamentos nos salvam!
COMO AVANÇAR, COM ESSE CENÁRIO?
Por isso, considero fundamental a discussão de exemplos de construção de pessoas, com ou sem questões de aprendizagem.
Mas antes de tudo, é preciso mais uma colocação sobre cada um de nós mesmos
Entre muitas formas, aqui vão algumas.
Primeiro, conhecer uma das bases para agir com sucesso: mais do que conhecer o rol dos Direitos Humanos Fundamentais, que são nada mais do que leis, é preciso que, fazendo parte de seus valores pessoais* esteja o de considerar a pcd com os mesmos direitos de todo ser humano!
*E, conjunto de valores pessoais é composto de tudo aquilo que escolhemos dar grande significado e importância em nossas vidas.
Para isso, é preciso que se tenha, também como outro valor, o empenho em avançar no conhecimento de si mesmo.
Em segundo lugar, é bom ter consciência de que a construção real dessa habilidade de lidar com a pcd é uma construção permanente, pois há quase nada dela, no nosso imaginário cultural. Também, que é muito mais ampla do que aprender um conjunto de técnicas para lidar com a pcd!!!! (Certamente é o mesmo para lidar com qualquer pessoa mas, mais evidente nas pcd, em função de um traço comum, o desenvolvimento prejudicado de algumas habilidades.)
Terceiro, é conhecer, refletindo e integrando ao nosso conhecimento e saber, uma afirmação esclarecedora de Canevaro, de 1984(!!!), que será o conteúdo de uma próxima discussão: “Uma pessoa com deficiência não é respeitada se for abandonada à sua deficiência, do mesmo modo que não é respeitada se se negar a realidade da sua deficiência. É respeitada se a sua identidade, a sua originalidade, da qual a deficiência também faz parte, for favorecida e quase provocada, isto é, se ela for levada a desenvolver-se. “
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